domingo, 17 de agosto de 2014

ADOLFO CAMINHA: POETA CEARENSE REPRESENTANDO O NATURALISMO BRASILEIRO


Adolfo Ferreira Caminha  nasceu no dia 29 de maio de 1867 em Aracati, no Ceará. Sua infância não foi muito tranquila, pois ficou órfão de mãe muito cedo, com apenas 10 anos, entre 05 irmãos, no ano de 1877, mesmo ano em que o Nordeste foi assolado pela seca.
Após ficar órfão, foi com seus cinco irmãos para Fortaleza, onde teve seus primeiros estudos, e seis anos depois, em 1883, foi para o Rio, onde estudou na Escola Naval. Devido à instituição ser conservadora e monarquista, lá revelou seus primeiros sentimentos republicanos e abolicionistas, chegando ao extremo de, com apenas 17 anos, fazer um discurso na presença de D. Pedro II, declarando-se contra a escravidão e o império. Mesmo assim formou-se na Escola Naval no ano de 1885, como guarda-marinha.
Por volta de 1886 demonstra sua vocação de escritor através da publicação dos poemas “Vôos Incertos”. Em 16 de Dezembro de 1887 foi promovido a 2º tenente, mesmo ano em que publicou seu primeiro livro de contos. No ano seguinte pede transferência para Fortaleza, provavelmente não por acaso, pois sabia que o Ceará já havia libertado os escravos, realidade que agradava aos seus ideais. Vem a se demitir do seu cargo na marinha no ano de 1890.
Em 1891 funda, em Fortaleza, a revista Moderna, e colabora para o Jornal do Norte. Em 1892, funda a "Padaria Espiritual", um movimento literário-político que acreditava na educação do povo para mudar o país, e publicava o jornal, "O Pão".
No ano seguinte lança o romance “A Normalista”, de cunho naturalista, criticando a vida urbana em Fortaleza, capital cearense. Colabora também na imprensa carionca, na Gazeta de Notícias e no Jornal do Comércio.
Adolfo Caminha foi um dos principais representantes do Naturalismo no Brasil, e sua obra se caracterizava por ser densa e trágica, naturalmente não foi muito bem aceita na época.
Em 1897, com apenas 30 anos, atormentado pelas dificuldades econômicas e debilitado pela tuberculose, o escritor vem a falecer. Deixa inacabados os romances: Ângelo e O Emigrado.

MINHA MUSA 
Minha musa é a lembrança 
Dos sonhos em que eu vivi, 
É de uns lábios a esperança 
E a saudade que eu nutri! 
É a crença que alentei, 
As luas belas que amei 
E os olhos por quem morri! 

Os meus cantos de saudade 
São amores que eu chorei, 
São lírios da mocidade 
Que murcham porque te amei! 
As minhas notas ardentes 
São as lágrimas dementes 
Que em teu seio derramei! 

Do meu outono os desfolhos, 
Os astros do teu verão, 
A languidez de teus olhos 
Inspiram minha canção... 
Sou poeta porque és bela, 
Tenho em teus olhos, donzela, 
A musa do coração! 

Se na lira voluptuosa 
Entre as fibras que estalei 
Um dia atei uma rosa 
Cujo aroma respirei... 
Foi nas noites de ventura, 
Quando em tua formosura 
Meus lábios embriaguei! 

E se tu queres, donzela, 
Sentir minh’alma vibrar, 
Solta essa trança tão bela, 
Quero nela suspirar! 
E dá repousar-me teu seio... 
Ouvirás no devaneio 
A minha lira cantar! 

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