quarta-feira, 6 de agosto de 2014

SORRISO DE RUA



SORRISO DE RUA

Autor: Carlos Delano Rebouças

Andando pelas ruas das grandes cidades, principalmente das capitais brasileiras, é comum se ver moradores de rua, pessoas que um dia tiveram um lar, e hoje, adotam como teto marquises de lojas, e camas, calçadas cobertas por papelões.
A família foi deixada para trás, diante de uma escolha ou imposição, onde um desconforto causado por desentendimentos, muitas vezes levados pela droga, álcool ou uma desilusão amorosa, permite se tomar uma decisão: escolher a rua como uma nova casa.
Alguns ainda conseguem manter uma relação com familiares, fazendo visitas esporádicas, resistindo aos pedidos para ficar, retornar, contudo, a rua e seus argumentos são mais fortes, e vencem essa queda de braço. A família mais uma vez é a derrotada nesta batalha, mas precisa entender que não pode perder essa guerra para o mundo.
Motivo para sorrir sempre têm os moradores de rua. Justifica-se pela liberdade adquirida, contato direto com a natureza, amizades feitas, e acesso a muita coisa que não tinham na vida que possuíra. Sempre procuram estampar um sorriso no rosto, mesmo que não reflita uma felicidade absoluta, ou uma verdade, enganando-se, quem sabe, mas que na realidade não resta outra possibilidade.
Será que diante de tantas dificuldades que sabemos identificar e imaginar, sorrir não acaba sendo um refúgio?
Quem já teve a oportunidade de conviver ou conhecer a vida de um morador de rua sabe como é difícil a sua realidade. Alimentar-se e higienizar-se adequadamente, conforta-se ao dormir e ter segurança, ter o seu espaço e ser respeitado, são condições que não mais fazem parte de suas vidas, que se perderam num passado não tão distante, às vezes, e que para resgatá-las como rotina, novamente, precisa-se urgentemente de uma mudança, de uma completa transformação, e quem sabe, de uma ajuda.
Alguém tem dúvida que são merecedores de dignidade e aptos a apresentar um sorriso verdadeiro?
Que sorriam sempre, moradores de rua. Que tenham sempre a alegria estampada em seus rostos. Mas acreditem que escolhas são escolhas, desde que prevaleça a sensatez, e que entendam que se deixaram alguém para trás, podem estar sendo injustos, pois enquanto sorriem, eles podem estar derramando lágrimas.

Que ninguém pense que se trata de uma tarefa fácil - esta de enxergar condições para reverter tais situações criadas - mas que na verdade, é vista como de extrema dificuldade, porém, cabível a qualquer cidadão, desde que se tenha sensibilidade e empatia.

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