domingo, 12 de outubro de 2014

TERCEIRA GERAÇÃO DO ROMANTISMO BRASILEIRO

As ideias liberais, abolicionistas e republicanas formam a base do pensamento brasileiro no período de 1870 a 1890. Influenciados por Auguste Comte (1798-1857), Charles Darwin (1809-1882) e outros pensadores europeus, escritores como Tobias Barreto (1839-1889), Sílvio Romero (1851-1914) e Capistrano de Abreu (1853-1927) empenham-se na luta contra a monarquia. Ao lado deles, Joaquim Nabuco (1849-1910), Rui Barbosa (1849-1923) e Castro Alves (1847-1871) também se destacam na divulgação do novo ideário.
O engajamento em questões da realidade social e a oposição ao governo central tornam-se incompatíveis com o subjetivismo e o patriotismo, até então dominantes. Uma nova polêmica envolvendo José de Alencar (1829-1877) é indicativa dos rumos que o movimento romântico toma nesse período. Ocorrida em 1871, a discussão foi iniciada pelo jovem romancista cearense Franklin Távora (1842-1888), que acusava Alencar de excesso de idealismo e pouco conhecimento empírico da realidade que retratava. A polêmica repercutiria sobre textos teóricos do próprio Alencar e também de Machado de Assis (1839-1908).
Na poesia, Castro Alves é o nome de maior destaque da terceira geração romântica. Autor de Espumas Flutuantes(1870) e do poema Navio Negreiro, ele celebrizou-se pela força lírica dos poemas em favor da libertação dos escravos. Também é relevante nesse período a figura de Sousândrade (1833-1902). Autor de uma poesia com momentos ricos em experimentalismo, como se pode notar pela leitura de O Guesa (1868), ele também teve atuação importante como cronista político.
Estilo - característica gerais

As ideias liberais, abolicionistas e republicanas formam a base do pensamento da inteligência brasileira a partir da década de 1870, que concentra a produção da chamada Terceira Geração do Romantismo e marca o início da transição para o Realismo. Influenciados pela filosofia positivista e pelo evolucionismo professado por Auguste Comte, Charles Darwin e outros pensadores europeus, escritores importantes como Tobias Barreto, Silvio Romero e Capistrano de Abreu empenham-se na luta contra a monarquia. Ao lado deles, intelectuais de vasta formação humanística, como Joaquim Nabuco e Rui Barbosa, e poetas de grande expressão, como Castro Alves, assumem papel de destaque na divulgação do novo ideário.

Mesmo antes deles, já na década de 1860, é possível identificar a fermentação de idéias em favor da abolição e da República, com o aparecimento dos primeiros panfletos e jornais que defendiam o fim da escravidão e o estabelecimento de um regime republicano, o que resulta na fundação do Partido Republicano, em 1870. Nessa mesma década, quase duzentos mil imigrantes chegam ao Brasil para trabalhar nas lavouras de café do Sudeste, num processo que anuncia a substituição do trabalho escravo pela mão-de-obra livre.
No prefácio aos Vários Escritos, de Tobias Barreto, Silvio Romero sintetiza a efervescência do período: "O decênio que vai de 1868 a 1878 é o mais notável de quantos no século XIX constituíram nossa vida espiritual. [...] De repente, por um movimento subterrâneo que vinha de longe, a instabilidade de todas as coisas se mostrou e o sofisma do império apareceu em toda a sua nudez. A guerra do Paraguai estava ainda a mostrar a todas as vistas os imensos defeitos de nossa organização militar e o acanhado de nossos progressos sociais, desvendando repugnantemente a chaga da escravidão".
Aos poucos, o engajamento em questões da realidade externa e a oposição ao governo nacional, implícitos nessa mudança de visão aludida por Romero, vão se tornando incompatíveis com o subjetivismo e o patriotismo, ambos característicos das gerações românticas anteriores. Indicativa dos rumos que toma o movimento nesse período é outra polêmica envolvendo José de Alencar. Ocorrida em 1871, quinze anos depois da celeuma em torno do poemaConfederação dos Tamoios, a discussão foi iniciada pelo jovem romancista cearense Franklin Távora.
Amigo de Silvio Romero e futuro autor do romance regionalista O Cabeleira (1876), Távora escreveu oito cartas com críticas severas ao romance O Gaúcho, de Alencar. As missivas foram publicadas no periódico quinzenal Questões do Dia, mantido pelo escritor português José Feliciano de Castilho, antigo desafeto político de Alencar. À resposta do célebre romancista, seguiram-se mais doze cartas de Távora, desta vez tomando Iracema como alvo. As acusações centrais eram o excesso de idealização dos personagens e a falta de conhecimento empírico a respeito do lugar retratado, indicativas da aspiração por uma representação mais realista da realidade brasileira.
Segundo o crítico Antonio Candido (1918), a polêmica teve importância por dois motivos. Primeiro, porque as observações de Távora seriam o primeiro sinal, no Brasil, de apelo ao sentido documentário das obras que abordam a realidade presente. Segundo, porque o fato teria motivado Alencar a escrever, no prefácio do romance Sonhos D'Ouro(1872), uma importante reflexão sobre sua obra. Nesse texto, o romancista argumenta que o retrato das condições locais não é a única via para uma literatura nacional e reconhece a investigação social, psicológica e dos costumes contemporâneos como tarefa primordial do romancista.
Essa tomada de consciência teria repercussão imediata sobre o jovem Machado de Assis. Em 1873, no periódico Novo Mundo, ele publicaria Instinto de Nacionalidade, ensaio em que desenvolve o mesmo tema de Alencar e supera suas próprias ideias acerca da constituição de uma literatura nacional, expressas em artigos anteriores. O texto mostra com clareza uma perspectiva nova: "O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem de seu tempo e de seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço", escreve Machado. Era o anúncio da transição realizada pelo escritor, que nos romances da década de 1870 põe à prova os preceitos do Romantismo, ao mesmo tempo em que expõe as limitações de uma representação da realidade calcada no elemento típico e no retrato pitoresco. Com isso, Machado preparava o caminho para a publicação de sua primeira obra-prima, Memórias Póstumas de Brás Cubas, de 1880, que marca a superação do Romantismo na prosa de ficção.
Autores

Segundo o crítico Alfredo Bosi (1936), Tobias Barreto e Silvio Romero estiveram entre os primeiros autores a sugerir a mudança de rumo no movimento romântico. Mestiço de origem humilde, Barreto foi o mestre da chamada Escola do Recife, e teve em Romero o seu mais importante discípulo. Sua obra poética, influenciada pelo francês Victor Hugo, é marcada pelo traço característico desse momento do Romantismo: o lirismo público e engajado em questões de justiça social, que geralmente se expressam em prosa e poesia marcadas pela grandiloqüência. Famoso pela verve de seus textos, Romero foi dos mais importantes críticos da literatura nacional do fim do século XIX. Colaborador de diversos jornais a partir da década de 1870, marcou época também pelas avaliações equivocadas. Considerava Machado de Assis um romancista menor e achava Tobias Barreto superior a Castro Alves, hoje unanimemente considerado o mais importante poeta da terceira geração romântica.

Autor de Espumas Flutuantes (1870), único livro que publicou em vida, e do famoso poema Navio Negreiro (1868), Castro Alves celebrizou-se pela força épica dos poemas em favor da libertação dos escravos. Vários de seus poemas, marcados pelo tom grandiloqüente, hiperbólico e exaltado, alcançaram enorme popularidade. Amigo de Joaquim Nabuco e Machado de Assis, a quem foi apresentado por José de Alencar, Alves também foi redator do jornal paulista A Independência ao lado de Rui Barbosa e defendeu ideias de cunho liberal em diversos jornais, entre eles o Jornal do RecifeA Primavera e O Lidador Acadêmico.
No campo da prosa de ideias, o nome que melhor simboliza a defesa da abolição é Joaquim Nabuco. Considerado o último liberal romântico do século XIX pelo crítico Alfredo Bosi, Nabuco é autor de O Abolicionismo (1883). Deputado pelo Partido Liberal, foi uma das figuras públicas de maior projeção de seu tempo. Foi também destacado memorialista, como atesta a obra Um Estadista do Império, em que reconstitui a vida de seu pai.
A mesma fibra abolicionista de Alves e Nabuco era partilhada por Rui Barbosa. Em 1869, Barbosa foi fundador do periódico Radical Paulistano, com Américo de Campos e Luiz Gama (1830 - 1882). Em 1883, substituiu Joaquim Nabuco na direção do Jornal do Brasil. O autor aprofundaria a defesa do ideário liberal valendo-se de ferramentas do direito e da retórica. Fundador da Academia Brasileira de Letras (ABL) ao lado de Machado de Assis, tornou-se conhecido pela erudição e pela eloqüência de sua oratória.
Tem ainda destaque nesse período a figura de Sousândrade, cuja obra tem momentos ricos em experimentalismo, como se pode notar pela leitura de O Guesa Errante. Mas o maranhense Joaquim de Sousa Andrade, seu nome de batismo, só teria a obra valorizada a partir da década de 1960, principalmente com os estudos realizados pelos irmãos Haroldo de Campos (1929 - 2003) e Augusto de Campos (1931). No período de 1871 a 1879, quando foi secretário e colaborador de O Novo Mundo, o mesmo periódico onde Machado de Assis publicou o Instinto de Nacionalidade, Sousândrade teve atuação importante como cronista político.

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