domingo, 7 de dezembro de 2014

UM POUCO DE MANUEL BANDEIRA


Manuel Carneiro de Souza Filho, nasceu em 19 de abril de 1886 em Pernambuco e depois mudou-se para o Rio de Janeiro com sua família.
Queria ser arquiteto, porém a tuberculose não permitiu. Passou por vários lugares para se tratar, dentre eles a Suíça (entre 1916 – 1917). Lá, conheceu o escritor Paul Éluard, que estava internado na mesma clínica. Numa de suas conversas com Éluard, Manuel Bandeira ficou sabendo sobre as inovações artísticas que aconteciam na Europa e as possibilidades do verso livre na poesia. Aliás, hoje, Bandeira é considerado o Mestre do Verso Livre no Brasil.

Poética

Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente
protocolo e manifestações de apreço ao sr. diretor.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário
o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja
fora de si mesmo
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do amante
exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes
maneiras de agradar às mulheres, etc
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbedos
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare

— Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário