DO SIRIGADO OU ARABAIANA À
TILÁPIA: SOMENTE UMA QUESTÃO DE PREÇO E PRAZER
Por Carlos Delano Rebouças
Na
brasa, frito ou cozido, ou em outras diferentes formas, ninguém pode negar que
comer um peixe é sempre bom e prazeroso, mesmo sabendo que esse prazer tem
preço e nem sempre é convidativo.
Estamos
em plena quaresma, período em que cristãos, especialmente católicos, aqueles
mais seguidores da doutrina religiosa, procuram consumir pescados em vez de
carne vermelha, em respeito à tradição, porém, que às vezes se torna difícil,
diante do custo do alimento.
Os
mais abastados financeiramente, não enfrentam esta dificuldade. Conseguem, pelo
prazer e vontade, satisfazê-las, comendo peixes mais seletos, mais caros,
saborosos, especiais, como por exemplo, o sirigado ou arabaiana. Que bom se
todos pudessem ter acesso a peixes desta categoria, contudo, resta somente para
uma massa menos favorecida apreciar alguns outros mais populares, porém, nem
menos saborosos.
Falamos
na Tilápia, ou para os cearenses, o velho Cará.
Peixe típico da água doce, carnudo, de muita oferta no mercado, o
popular pescado sempre aparece na mesa dos mais humildes brasileiros. Nem
sempre com a mesma frequência do ovo, do frango ou da carne bovina, de segunda
categoria, é verdade, mas o seu consumo frito, com um baião-de-dois, é para
muitos o desejo de se quebrar uma rotina alimentar, em que o preço prevalece
diante de um prazer inadiável.
Bem
que o sirigado e a arabaiana são muitos saborosos, mas às vezes, prefiro bem
mais a nossa Tilápia, tradicional, popular, disponível em toda esquina, frito
ou cozido, não importa, mais que tem a cara do povão, de uma massa que palita
os dentes no final de sua refeição com a mesma alegria de como tivesse
apreciado um pescado nobre.
Contudo,
quero encerrar esta minha escritura, deixando aos leitores uma indagação: Será
que existe alguma espécie de pescado nobre, ou somos nós, humanos, que
transferimos nossas convicções sobre valores pra os outros seres, moldando-os à
nossa visão, conforme queremos?
Não
sei, mas prefiro acreditar que a nobreza está em aceitar qualquer um da forma
que se apresenta, naturalmente, pois particularidades são particularidades,
sejam as percebidas no homem, sejam as percebidas nos pescados. Sirigados e
Arabaianas têm seus valores e seus sabores, que em nada superam as tilápias.
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