sexta-feira, 17 de abril de 2015

SINTO QUE VOU MORRER, MAS NÃO EM BREVE


Autor: Carlos Delano Rebouças

Sinto que vou morrer. Nunca senti isso antes, nem nos piores momentos de minha desregrada vida, diante do meu exagerado consumo de álcool e de uma péssima alimentação. Sinto de verdade que estou caminhando para a morte, depois dos meus 80 anos.

Assim, sente-se Leopoldo, não somente porque passou a sentir uma dorzinha aqui e outra acolá no seu avantajado corpo de 164 quilos, nem mesmo pelos resultados de tantas baterias de exames realizados ao longo dos últimos 10 anos de seus 50 anos de vida, mas sim, pela consciência de quem acredita que hoje a população mundial, pelos mais diferentes hábitos, erra demasiadamente nos cuidados com sua alimentação e no cuidado com sua saúde.

Leopoldo sempre na sua juventude cuidou muito bem de seu corpo, praticando o seu esporte favorito, que era o futebol e depois a cervejinha com um churrasquinho. Depois, abandonou o futebol e ficou somente com os hábitos pós-jogo, com os amigos. Leopoldo levou isso por longos anos, e, mesmo abandonando o futebol pelo excesso de peso, jamais abandonou os amigos e os costumes desenvolvidos. Hoje, visita os amigos somente depois das partidas de futebol, para o exercício do prazer de beber e comer, e sorrir.

Há quem diga que a vida de Leopoldo é boa. Sempre com um sorriso no rosto, cercado de amigos, tomando uma cervejinha gelada e comendo seu churrasco, religiosamente, sempre aos finais de semana. Como ele, mas sarados, sem aquela notável barriga, muitos jovens, nas mais diferentes academias do mundo cuidam do seu corpo, tornando-os magníficos aos olhos de quem os veem.

Muitos desses jovens mantêm seus corpos esculturais com o consumo de suplementos e drogas, como também, com uma dieta balanceada, com todos os nutrientes necessários, em paralelo com atividades físicas pesadas, diárias. Porém, muitos dormem mal, diante de hábitos noturnos, diversões, regadas pelo consumo de álcool, drogas e de uma desequilibrada alimentação, bem diferente de sua rotina diurna. Vão do céu ao inferno em 24 horas, e tanto o corpo, quanto a mente, reagem, buscando respostas.

E se a população mundial vive assim – nessa gangorra – por que cada vez mais tem vida longa, vivendo mais, quando não tem a vida interrompida devido a outros fatores?
Viver mais não é sinônimo de viver com qualidade. Hoje se retarda mais a morte devido à ciência e a medicina. Convivemos com a doença, com as dores por mais tempo, até que se chega a um ponto, que não dar mais. Até que chega a morte.

Qualidade de vida é um conjunto de situações harmoniosas, prazerosas, de levar a sua estada aqui na terra, que envolve corpo e mente, mas não necessariamente acontece com a busca de um corpo escultural ou mantendo bons hábitos alimentares. Parece ser um segredo, mantido a sete chaves, que só se descobre com a morte, e quando esta chega após muitos anos vividos.

Leopoldo sente que vai morrer, sente que seu dia se aproxima, só não sente quando será, pois certamente deseja que não seja em breve, pois não quer que nada venha a atrapalhar a sua cervejinha, nem menos seu churrasquinho.

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