quinta-feira, 28 de maio de 2015

VÍTIMAS SORRIDENTES DO PRECONCEITO LINGUÍSTICO


Por Carlos Delano Rebouças

Não se trata de tarefa difícil encontrar algum escrito que seja, a qual venha a denotar na incapacidade do brasileiro de se comunicar, mesmo simplório, e que o torne passivo de sofrer preconceito linguístico em sociedade.

Em tudo que possamos ver, sempre temos subsídios suficientes para diagnosticar o nível do brasileiro quanto ao domínio sobre a língua portuguesa, bem mais, sobre os conhecimentos suficientes para a produção de textos coesos e coerentes, que atendam o mínimo de exigências da gramática brasileira.

Sejam em placas publicitárias, avisos comuns e avulsos, ou em para-choques de caminhões, sempre são percebidos os mais variados absurdos, sobretudo, aqueles que no ápice de seus exageros, acabam se tornando piadas, daquelas que arrancam gargalhadas unânimes, generalizadas, sempre que são vistas e avaliadas em grupo, até mesmo quando neste, encontram-se protagonistas em potencial.

O Programa do Jô Soares é um dos que mais exploram a escrita incorreta dos brasileiros, embora, acredite-se que quase sempre a mensagem é semanticamente compreendida. O culto e irônico apresentador não economiza em seus comentários, opiniáticos, em meio às gargalhadas de sua plateia, sem mesmo conhecer os autores daquelas proezas.

Também nas redes sócias, vemos muitos absurdos escritos. Lá é que testemunhamos aberrações, contudo, podem acreditar que são vistos como aceitáveis, já que escrever errado nas redes sociais passou a ser normal, moda, ao contrário, caretice. Representa uma absoluta inversão de valores, com todas as prerrogativas possíveis.

Na verdade, significa uma pertinente saída para quem não possui capacidade de escrever duas palavras, sequer, sem erros gramaticais, não acham? Há que afirme que não faz diferença alguma na sua vida, nem no seu desenvolvimento profissional.

Convivendo com esse cenário – de um país feito de pessoas alfabetizadas que sequer sabem escrever – restam-nos somente rir de nós mesmos e vestir a carapuça das limitações, e aceitarmos sem contragosto algum o preconceito linguístico imposto pela sociedade a qual fazemos parte?  Somos ao mesmo tempo mocinhos e bandidos, sem nos importarmos muito se parecemos palhaços neste picadeiro da vida?

Infelizmente, encontramo-nos nessa posição - de palhaços que riem e fazem graça de si mesmos - quando a sua capacidade de escrever, de produzir um texto qualquer, é posta a prova, e que acaba sendo contestada, sem contradições e interpelações, mesmo que busquemos nos defender, segurando um canudo nas mãos, como um troféu, intitulando-se doutor.

Precisamos nos esforçar para que não sejamos julgados e rotulados, muito menos, que nossos conhecimentos sejam questionados. Chega de tanta piada, de tanto descaso e de tanto preconceito. Escrever bem é uma obrigação de todos, pelo simples fato de honrar com a nossa dignidade, em respeito a nossa língua portuguesa.

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