terça-feira, 26 de julho de 2016

A Corda

Autor: Desconhecido

Era uma vez dois países, cortados por um rio, rápido, largo, perigoso, no qual muitos se afogavam ao tentar atravessá-lo.Em um desses países fluía o leite e o mel - era o país da felicidade..O outro, estremecido por brigas e devastado pela preocupação, era o país da infelicidade.

Um dia um homem observa aquele rio e, por Amor, resolve fazer alguma coisa: - Vou esticar uma corda de uma margem à outra, mesmo que eu morra ao enfrentar os perigos do rio, não importa. No futuro, outros poderão apanhar a corda, atravessar o rio com segurança e atingir o país da felicidade.

Eis que um dia esse homem executa o seu projeto.Apanha uma corda, amarra uma das extremidades em uma árvore, agarra a outra ponta e mergulha na correnteza, lutando contra as ondas. No meio da espuma e dos rodamoinhos, caçadores confundem-no com um animal e atiram nele, ferindo-o mortalmente.

Mesmo ferido, num derradeiro esforço, o herói consegue alcançar a outra margem e amarrar firmemente a corda da salvação.

A partir desse dia, tal homem de coragem foi reverenciado por todos, que diziam:

- Ele morreu para nos salvar; é digno do nosso amor.

Na verdade, rendiam-lhe homenagens, todos o faziam.Mas poucos seguiam o seu exemplo. Diziam:- Se segurarmos a corda, não corremos o risco de nos afogar... mas a água está tão fria e o rio é tão largo...!O perigo da travessia continua grande!

E assim, com o correr dos anos, a corda foi esquecida.Coberta de algas e de galhos, não era mais visível. Porém, o culto ao herói sobreviveu: o povo construiu monumentos em sua memória, cantou hinos em sua honra e continuou evocando o seu nome pelo grande amor que aquele ser lhes havia dedicado.

Sucederam-se as gerações: a segunda, a terceira, a quarta...Oradores, cientistas e letrados falavam das virtudes do herói, e narravam a maneira como, morrendo, ele salvara os homens.

Mas nunca mais se falou da corda jogada por cima do rio. Tinha sido completamente esquecida.Os argumentos, os discursos e os ensinamentos dos chamados "sábios" acabaram criando uma grande confusão.

Superstições proliferaram e raros foram os que conseguiram distinguir a Verdade.

Oradores declaravam:

Por que esta disputa?

A única coisa necessária é adorar o herói como um Deus e acreditar que ele morreu para a salvação de todos.

E eis que, quando nós morrermos, entraremos sem dificuldades no país da felicidade.

Se o nosso corpo nos proíbe, por enquanto, a travessia do rio, após a morte a nossa alma voará para o outro lado.

O amor, a potência e a coragem do herói eram tão grandes que tudo o que pedirmos ao seu espírito ele nos concederá se lhe demonstrarmos bastante amor.

Quando o povo ouviu isto, sentiu uma alegria imensa e cobriu de honrarias os oradores, falando: Grande é a sua sabedoria, pois nos mostram um caminho fácil.

É simples: adorar, rezar e solicitar ao nosso herói a salvação na hora da nossa morte.

Portanto, agora, comamos, bebamos, sejamos alegres e aproveitemos da melhor maneira a nossa estada no meio onde estamos.

Nesse meio tempo, o espírito do herói contemplava os seus irmãos com tristeza, escutando as suas orações e súplicas.

Eles haviam esquecido a corda que ligava o país da infelicidade ao da felicidade e que havia custado a vida do herói, para deixar a todos o exemplo de coragem e o caminho da paz, que passa pela educação do coração e pela vontade de amar a todas as criaturas.

Aquele povo perdera a chave que lhes permitiria ler as palavras daquele herói e de outros que existiram antes dele.

Liam com os olhos da carne, em vez de lerem com os olhos da alma.

Ainda surdos para ouvir, não conseguiam escutar o herói que ainda hoje continua a clamar:

- Acorda!

- A corda!!

- ACORDA !!!

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