Por Carlos Delano Rebouças
Sentada em
um tamborete, Dona Isaura diariamente seguia a sua rotina de catar piolhos e
lêndeas nas cabeças de seus netos e até, nas outras crianças do seu bairro.
Muito mais
que uma forma de minimizar a incidência do parasita no couro cabeludo das
crianças, tratava-se de um passatempo para aquela senhora de 73 anos, que
apesar de sua idade, tinha um espírito jovial, que a levava a sua infância,
sempre que acolhia uma criança entre suas pernas, munida de seu pente, escova e
tantas histórias a contar.
Era
realmente um momento único para a Dona Isaura, que hoje está sepultado diante
da tecnologia, dos equipamentos portáteis que permitem uma viagem pelo mundo
virtual, cibernético.
E como Dona
Isaura, tantas outras insistem em manter viva essa cultura, mesmo que seja na
matança de piolhos e lêndeas. Quantas ainda vemos sentadas nas calçadas,
proseando, como se diz no interior do Brasil,
e, entre um estalo e outro, nas brechas abertas dos cabelos partidos pelos
pentes, no paciente ofício de catador de piolhos, muitas histórias são
contadas.
Lembro até
que um dia, assistindo a uma matéria na TV, vi que existem profissionais
catadores de piolho, que sobrevivem do ofício, acreditem.
Certamente, Dona
Isaura não é assim; ela somente encara a atividade como uma rotina de vida, que
vem desde a sua infância, quando era uma dessas crianças, piolhentas, que não
se vê bem menos hoje em dia. Faz parte de alguns poucos remanescentes que
relutam na manutenção de uma cultura, que precisa somente de um pente fino, uma
escova, uma toalha branca, e uma cabeça repleta de piolhos, e sem um sinal de internet, para não desviar as atenções.
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