domingo, 4 de setembro de 2016

OLHA A FACA!

por Carlos Delano Rebouças

Nossa turma de amigos era muito unida e sempre dedicávamos muito do nosso tempo para o nosso convívio. Festas, íamos juntos, riamos juntos e voltávamos sempre felizes para casa. Nada quebrava aquele ambiente saudável semeado entre nós, amigos de infância, filhos do mesmo bairro, e muitos da mesma rua. Amizade sincera e verdadeira, que fazia com que todos nós conhecêssemos muito bem uns aos outros.

Em meio a tantas brincadeiras desconcertantes, uma delas arrancava muitas risadas, mesmo que significasse um “sofrimento” para Gláucio. Não podíamos tocar-lhe a cintura, que sua sensibilidade aguçada, fazia-lhe reagir com sustos, aos pulos, e de imediato, virava um momento de descontração e risos, aos gritos de: “Olha a faca”.

A expressão “olha a faca” é muito usada nessas circunstâncias, quando cutucamos com as pontas dos dedos o corpo de alguém, como Gláucio, com alta sensibilidade, a fim de assustar, e, com isso, tornar aquele momento cômico. Como brincadeira, funciona assim, porém, provém de uma gera uma expressão que, infelizmente, é oriunda de péssimos hábitos, violentos, sangrentos, e para não esquecermos, trágicos. Em outros tempos, eram típicos do interior do Brasil, e hoje, toma conta das ruas do Rio de Janeiro e de todo o país.

Gláucio pode certamente não apreciar a brincadeira que tanto lhe incomoda. Detesta quando seus amigos o cercam, deixando-o acuado, sem defesa, a mercê de suas investidas com cutucadas, felizmente, com as pontas dos dedos, e aos gritos e gargalhadas de “olha a faca!”.

Mas depois da brincadeira, e refletindo sobre a violência que toma conta deste país, relaxa e agradece a Deus, pedindo sempre que o proteja de não ser vítima de uma brincadeira de mau gosto, como estas, praticada nas ruas do Rio de Janeiro, e que infelizmente, logo tomará conta das ruas do país inteiro, pois tudo que é noticiado vira moda, instantaneamente.

Gláucio não mais se assusta tanto com as brincadeiras dos amigos de infância. Até entende que seu jeito de ser representa uma oportunidade de descontração, entretanto, a frase “olha a faca” escutada por ele, hoje, não soa mais como uma frase de brincadeira dos amigos, ou seja, já lhe traz preocupação, a mesma que ocupa a mente de cariocas e brasileiros.



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