sexta-feira, 14 de outubro de 2016

MINHA VIDA ESCRITA NUM PAPEL



por Carlos Delano Rebouças

Uma vez imaginei que a vida seria como a escritura de seu texto numa folha de papel em branco, ansioso para ser lido e desejoso para ter sua história contada nas entrelinhas que ainda sequer existem. Seria uma incontrolável vontade de se materializar para um mundo que o esperaria para uma leitura.

Quando abrimos os olhos ao mundo, o novo nos é apresentado abruptamente, sem mesmo reunirmos condições para perguntar onde estamos ou aonde chegamos. Trata-se de uma nova vida que se apresenta ao mundo, ou seja, uma nova história a ser contada, partindo de páginas em branco, esperando para ter suas primeiras letras escritas.

Alguns calouros desse novo mundo já nascem pisando nas pautas de sua folha de papel, oferecendo-lhes a base necessária para se projetar os primeiros passos da vida; outros, embora sem entender, inevitavelmente tropeçam na existência dessa base necessária, como sinal prematuro das dificuldades que porventura irão enfrentar na sua caminhada.

De nada adianta possuir o papel em branco, comum a todos que se apresentam para a vida. Melhor ainda seria contar com as pautas, um lápis e uma borracha. Somente assim poderia ensaiar as minhas primeiras letras, palavras e frases, e, sem demora, chegar aos meus primeiros e curtos períodos. Certamente, seriam passos importantes de uma vida que se inicia.

Pena que nem sempre é assim, ou seja, nem sempre contamos com as pautas; o lápis pode ou nos faltar, ou se apresentar sem uma ponta afiada para a escrita da minha história. Quanto ao erro, indiscutivelmente passivo a todos, independente das condições do papel, contudo, retificá-lo, nem sempre contamos com a borracha em nossas escritas. São marcas que ficam e pareçam inapagáveis, embora nem sempre uma borracha resolva.

E sem permitir que nada atrapalhe a escritura do texto de minha vida; louco para ver as páginas em branco escritas nas mais diferentes cores, ilustradas com desenhos e figuras que reforçam uma história de felicidade; continuo em passos largos a escrever a minha vida, pois sou ciente das minhas condições iniciais – aquelas cujo papel sequer contava com pautas, muito menos com lápis e borracha para me auxiliar – e confio que minha história deixará marcas importantes para quem ler o meu texto.

Espera-se, portanto, que a vida seja sempre longa, na crença que a longevidade seja sinal de sucesso e felicidade, sem duvidar em momento algum que essa tão desejada longevidade tenha mesmo esse significado. Entretanto, caso essa história de vida não seja escrita com muita verdade nas suas entrelinhas, certamente não terá o valor daquelas - curtinhas e gostosas de ler -, principalmente, se em suas páginas existirem espaços em branco de um papel que foi criado não só para construir uma história, mas também para deixar um legado a todos os seus leitores.


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